O Príncipe, a Bela Adormecida, o Sapo, a Abóbora e o Dragão
Era uma vez um reino encantado, o reino da doença mental e emocional, o reino da codependência. Neste estranho reino todos depositavam a conquista de sua própria felicidade nas mãos de terceiros — os outros farão de mim uma pessoa muito feliz, que coisa mais doida.
Num certo dia um certo príncipe realizou o seu grande sonho, que era o de casar-se com uma certa bela adormecida, que por sua vez estava radiante de felicidade com as bodas com tão belo príncipe encantado; o objetivo comum era viverem felizes para sempre, mas não demorou muito e a realidade bateu à porta de ambos.
Depois de alguns meses de relacionamento a bela adormecida descobriu, pesarosa, que príncipes encantados não desentopem pias; príncipes encantados não trocam as fraldas do bebê; príncipes encantados não varrem o quintal, não jogam o lixo fora, não colocam as toalhas molhadas no varal; príncipes encantados não lavam as louças depois das refeições, não limpam a tampa da privada com os respingos de sua própria urina, etc — grande foi a dor da bela adormecida, ou seria bela enfurecida?
O príncipe encantado, por sua vez, estava bastante desencantado com sua bela adormecida, percebendo logo que belas adormecidas vivem idealizando o tempo todo um mundo feliz de faz de contas; belas adormecidas deixam a comida queimar enquanto sonham, transformando refeições em pesadelos digestivos; belas adormecidas passam longas horas de suas vidas nas redes sociais, tal como os antigos portugueses "a ver navios" nas colinas de Lisboa, numa inútil espera pela volta do amado Rei, morto nas cruzadas; belas Adormecidas são apaixonadas por séries coreanas com finais absolutamente felizes, etc — grande foi a dor do príncipe encantado, ou seria o príncipe revoltado?
Depois de muitas brigas, gritos, trocas de caras fechadas e cada vez mais raros beijos, o príncipe encantado e a bela adormecida resolveram separar-se, o casamento havia desastrosamente chegado ao fim. O triste desfecho da relação ocorreu numa discussão em que o príncipe desencantado, aos berros jogou na cara de sua bela adormecida: "Você não passa de uma grande abóbora, tal qual a sua mãe", e a bela aborrecida, tomada de cólera dos pés a cabeça respondeu na mesma moeda: "Você nada mais é do que um insignificante, vulgar e desprezível sapo obeso e irresponsável, igualzinho ao seu pai".
Este teria sido o melancólico fim do reino encantado de minha própria codependência (dentro de mim príncipes, princesas, castelos, sapos e abóboras), mas pela Graça de um Poder Superior — conforme O concebo — encontrei um dia um grupo de 12 Passos, onde posso aberta e honestamente falar destas humanas questões, não como um imaginado príncipe forjado nos doentios porões de minha mente, mas tão somente como um simples ser humano em constante processo de construção — eu não estou pronto ainda, e provavelmente jamais venha a estar, mas já começo aceitar com naturalidade, gratidão e alegria que um único dia plenamente vivido sob a luz do sol e o controle de um Poder Superior, e não mais o meu, desfaz oceanos de enganos de minhas próprias e distorcidas emoções.
No estranho reino de minha codependência, onde habitam os príncipes, as princesas, os sapos e as abóboras, o meu ego é o rei — seria o meu ego um terrível e mitológico dragão?
Meu nome é Anônimo, Anônimo em recuperação! Pública é a minha codependência; eu sou maior que todas as minhas ilusões. Só por hoje serei feliz; só por hoje eu sou a pessoa mais importante da minha vida. Paz, serenidade e muitas 24 horas. Caso tenha gostado da mensagem, sinta-se a vontade para compartilhar com os demais.
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