O Quintal da Casa do Araçá

"Concedei-nos, Senhor, a Serenidade
necessária

para aceitar as coisas que não podemos
modificar,
Coragem para modificar aquelas que
podemos,
e Sabedoria para distinguir umas das
outras"

Seja muito bem-vindo ao blog; Benvindo é meu sobrenome, Anônimo é o meu nome e pública é a minha codependência e gratidão


Caminho pelo campo em um dia ensolarado, observando carinhosamente cada árvore que encontro pelo caminho. De repente, vejo na beira da cerca um pequeno pé de araçá, e neste momento, viajo com a vertiginosa velocidade do pensamento por uma longa, escura e pessoal estrada de passadas e dolorosa emoções; enquanto viajo, vou ouvindo através da escuridão cavernosas vozes que gritam sistematicamente nos meus ouvidos:

"Você é uma besta!; você é uma besta quadrada; você não tem jeito para fazer nada; você é muito ausente; você estuda muito, e quem estuda muito vira burro; você é muito chato; você é bobo; você é muito inseguro; você é um banana; quando um burro fala o outro burro baixa a orelha; você é um otário; você é muito ausente; você vive com a cabeça no mundo da lua; você não sabe o que quer da vida..."

São tantas as nefastas vozes, não suporto mais, grande é a minha dor; tropeço, caio e rolo para dentro de um depressivo poço, onde vivi por muitos anos, ouvindo diuturnamente as terríveis vozes acusadoras que nunca me dão trégua — um inferno em vida.

Mas dentro do poço e do inferno das perversas vozes, eu conseguia muitas vezes distinguir uma voz diferente, uma voz doce e amorosa que enchia a minha vida de esperança, uma voz serena e suave que conseguia, apesar dos ásperos e soberbos gritos das loucas, cruéis e incansáveis vozes, chegar muitas vezes aos meus ouvidos — seria esta solitária voz um arauto do Segundo Passo? "Viemos a acreditar...". Qual é, afinal de contas, a origem desta voz? A lampejante viagem emocional continua e, através de um extraordinário mapa mental elaborado pelo meu cérebro, chego finalmente a um outro pé de araçá.

Vejo um quintal e um pé de araçá próximo a um muro; vejo um menino que frequentemente atravessa a rua — ele mora na casa da frente — e vai até ao quintal da casa do araçá brincar com uma porção de outros meninos que moram lá; vejo a avó dos meninos da casa do quintal do araçá sentada, calada e em paz, e na sua paz ela simplesmente observa seus netos e o neto alheio brincando alegremente; vejo o tempo avançando, o término das brincadeiras e, o neto alheio dirigindo-se de volta para a sua casa; vejo então a avó de seus amigos, sempre tão introspectiva, aquecendo seu corpo cansado sob o sol de início de outono, dirigindo-se a ele...

— Lolô... - era este o apelido do menino.

— Sim... — responde timidamente Lolô, olhando diretamente para os olhos da alheia avó.

— Você tem o olhar de um menino muito inteligente! — respondeu a alheia avó, olhando amavelmente para os olhos do alheio neto.

No mesmo milionésimo de segundo que fiz a viagem de ida, fiz a de volta, e constato então, que a simples visão do pé de araçá na beira da cerca, levou-me de volta a um ponto de minha vida onde, uma simples frase expressa com profundo amor e simplicidade, serviu para mim como uma estrela guia, enchendo-me de esperanças na longa e escura noite em que vivi no meu depressivo poço  minha eterna gratidão araçá, árvore que me fala da persistência e resiliência; minha eterna gratidão minha alheia avó, que um dia me tocou com o seu próprio amor.

Meu nome é Anônimo, Anônimo em recuperação! Pública é a minha codependência; eu sou maior que todas as minhas ilusões. Só por hoje serei feliz; só por hoje eu sou a pessoa mais importante da minha vida. Paz, serenidade e muitas 24 horas.

Comentários

  1. Que maravilha é o poder do amor e da gratidão! Semear esperança...abençoados sejam todos os semeadores da Luz!

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