Minhas Codependentes Características
"Concedei-nos, Senhor, a Serenidade
necessária
para aceitar as coisas que não podemos
modificar,
Coragem para modificar aquelas que
podemos,
e Sabedoria para distinguir umas das
outras"
modificar,
Coragem para modificar aquelas que
podemos,
e Sabedoria para distinguir umas das
outras"
Andei lendo sobre as característica codependentes, lista que de tão enorme, mais se assemelha ao vasto oceano do mundo. Identifiquei-me com muitas e muitas destas características.
Muitas das característica que li já estão no passado, já são coisas que consegui superar com a prática do Programa de 12 Passos, mas outras ainda estão lá, tão vivas e verdejantes como as hortaliças nos bem cuidados canteiros das hortas.
Depois de ler aquilo tudo por mais de uma vez, o que vem agora à minha mente enquanto escrevo é a repressão, a culpa, o medo, a vergonha e o sentimento de rejeição. Não fui criado em lar alcoólico, mas — agora eu sei —, existem alcoólicos secos. Havia disfuncionalidade em minha casa, havia lá uma não revelada lei do silêncio, havia lá o autoritarismo do patriarca, cuja palavra era a última, era a única e era a lei — havia muito amor no lar também.
Tive dificuldades naquele período e, de certa forma, sinto-me ainda muitas vezes preso àquele passado já tão distante nas curvas do tempo, e até hoje sinto em mim muitas daquelas dores que teimam em voltar, ou quem sabe, dores que nunca partiram — existem ainda feridas emocionais abertas.
Venho obtendo notáveis progressos na minha recuperação através do Programa de 12 Passos, contudo, mesmo depois de muitas 24 horas, por mais esforço que eu empreendesse, meu medo, minha culpa, minha vergonha e sentimento de não pertencimento ainda estavam lá. Somente quando os 12 Passos levaram-me de encontro à minha codependência, com a consequente descoberta de uma criança sofrida em mim, foi que comecei finalmente a perceber que estes sentimentos são as emoções reprimidas, veladas e jamais reveladas de desta criança interior esquecida em mim, uma criança que sofreu muito e que não conseguiu de forma equilibrada andar com segurança na corda bamba da vida — ou bamba é a codependência?
Até hoje sinto o dedo que aponta; até hoje sinto a dor do duro olhar; até hoje a dor do autoritarismo; até hoje o desconforto de sentir-me como um estranho na multidão, um estranho no ninho; até hoje a dor absurda pela ausência de meu pai, e contraditoriamente, o medo de sua presença — papai era viajante profissional.
Eu achava que o meu medo de falar sobre o que penso e sinto era tão somente fruto do meu orgulho — tenho um bom nível de orgulho —, mas não é só orgulho, não é, agora eu sei. O Medo de falar o que sinto é o medo do processo de repressão na infância, é o medo da desobediência, é o medo de não ser aceito, amado, abraçado, compreendido tolerado... é o medo infantil do filho que deseja tanto e tanto o amor de seu pai, é o medo de ser rejeitado; este medo é o sentimento mais primitivo que eu tenho, e tem sido, ao longo de toda a minha vida, meu fiel companheiro e meu tirano carcereiro.
Vão se os anéis e ficam-se os dedos; a codependência para mim companheiros não é mais a mão — a mão não mais está presente —, a codependencia agora é tão somente a sombra da mão, a codependência agora é a luva. A mão era algo real, a luva, apenas uma sombra imaginária que permeia muitas vezes os meus dias de viver — sou um exímio criador de mundos mentais maravilhosos e, na maioria das vezes, desastrosos.
Por medo criei muros; por medo criei armaduras; por medo de ser rejeitado, tornei-me o agradador de todos — confesso que desejava muito agradar ao meu papai; por medo cai no poço escuro da depressão; por medo perdi-me no labirinto sem fim da codependência; por medo passei a controlar loucamente todas as minhas emoções; por medo criei inúmeras máscaras para sobreviver, um verdadeiro teatro de fazer inveja aos antigos gregos; por medo não aprendi a ser; por medo não aprendi a viver; por medo não sei ainda como é amar; por tanta dor, tanto sofrer e tanto vazio, e mesmo com medo, um dia finalmente procurei ajuda.
Fiz terapia por quatro anos, e a terapeuta ajudou-me bastante, conseguindo tirar-me um pouquinho do meu estado quase letárgico — sou muito grato à terapeuta, preciso praticar o Décimo Segundo Passo, procurá-la um dia e abraçá-la com todas as forças do meu coração.
Depois da terapia veio o Programa de 12 Passos, e com ele, dia a dia a descoberta de todo um mundo ignoto dentro de mim, um mundo escuro e fechado como uma sepultura — eu já fui um túmulo vivo.
Sinto-me agora em uma rota segura; consigo escrever e falar sobre os meus sentimentos com precisão matemática — eu sou matemático —, e isto, pouco a pouco vai libertando-me. Em mim ainda o medo e a vergonha, em mim ainda o desconforto, mas agora eu sei que é um dia de cada vez, agora eu sei que não estou só, e que com o Programa de 12 Passos, os companheiros, as salas e, sobretudo, com a presença do Poder Superior em minha vida — conforme eu O concebo —, eu vou pouco a pouco superando estas dores infantis de uma criança que não conseguiu desenvolver-se plenamente em mim, minha quase perdida e agora revelada criança interior — existem maravilhosas promessas no Programa de 12 Passos.
Resta para mim a aceitação de tudo o que aconteceu — o Poder Superior poderia ter feito diferente, mas não fez; resta para mim a disciplina e a coragem de persistir no processo de recuperação através da prática do Programa de 12 Passos. Como eu escrevi no início, havia muito amor em meu lar também, mas na minha miopia — a codependência é míope — eu não consegui enxergar. Resta para mim, enfim, a necessária remoção de todos os meus entulhos emocionais — um dia de cada vez, um entulho de cada vez —, a fim de que o caminho possa simplesmente se abrir para algo que nunca deixou de estar dentro de mim, desde o princípio, desde sempre: O Amor.
As vezes sinto o doce olhar do meu pai em mim; as vezes sinto a amorosa presença do meu pai em mim; as vezes sinto a força do meu pai em mim; as vezes sinto a dor do meu próprio pai em mim — lá vem o sol, lá vem o sol. O amor conhece o caminho de volta para a minha amada casa.
Só por hoje serei feliz; só por hoje eu sou a pessoa mais importante da minha vida. Paz e serenidade e muitas 24 horas.
Comentários
Postar um comentário