O Menino do Cabeção Pensante
Era uma vez um menino que sentia muitas dificuldades em lidar com a realidade objetiva; o menino sofria muito com isto, então, pouco a pouco começou a criar a partir de seus poderosos pensamentos mundos idealizados onde tudo funcionava direitinho, e desta maneira achou que havia redescoberto a América seis séculos depois de Colombo — os navegantes lançam seus navios aos mares, os codependentes lançam suas canoas furadas nos próprios brejos de suas ilusões.
No mundo real o menino morava na periferia com esgoto a céu aberto, ruas sem iluminação e calçamento, casas sem eletrodomésticos, sem água encanada, sem carros, sem luxo, sem nada... Mas isto ele resolvia sem muitas dificuldades: Entrava no seu quarto, fechava a porta, lembrava-se do último filme visto no cinema sobre aqueles felizes e belos norte americanos, e então simplesmente começava a criar aqueles mundos mentais idealizados onde tudo funcionava, e no qual ele era tão feliz quanto os americanos das terras dos ursos.
No seu mundo mental idealizado nas poderosas engrenagens do seu cabeção pensante haviam belas casas, belos gramados, muitos brinquedos e, o fundamental: Haviam muitas pessoas sorridentes e prestativas, pessoas que nunca sofriam; pessoas que nunca gritavam; pessoas que nunca apontavam o dedo com olhares reprovadores; pessoas que nunca mentiam; pessoas que nunca feriam; pessoas que nunca sofriam escondidas e caladas pelos cantos; pessoas que nunca sumiam; pessoas contentes; pessoas sorridentes; pessoas presentes... — Seria o menino do cabeção pensante um parente próximo da Alice, aquela do país das maravilhas?
Desta maneira o menino do cabeção pensante cresceu, e cresceu também, e muito, o seu mundo mental imaginado, o seu mundo pensado, regulado, controlado e calculado, a tal ponto que ele já não mais conseguia distinguir em seu cabeção mental o que era real e o que era imaginário, ficou mesmo tudo junto e misturado.
Com o passar dos anos o menino do cabeção pensante passou a sentir-se mentalmente exausto, o custo da energia mental para manter seu ilusório universo paralelo era astronômico, a depressão profunda passou a bater em sua porta todos os dias, tal como um terrível cobrador de impostos, havia então chegado o momento de abandonar tudo aquilo, simplesmente destruindo todos os seus castelos mentais e reingressando de forma natural na realidade — assim pensava o menino do cabeção pensante.
Mas não foi assim que a banda tocou, pois por ficar tão focado e entocado em seu próprio e vasto mundo mental por tantos e tantos anos, o menino do cabeção pensante criou vários labirintos, não conseguindo mais encontrar o caminho de volta para a realidade, transformando-se numa verdadeira e compulsiva máquina ambulante de pensar e num escravo de suas próprias fantasias mentais que criaram em sua mente uma grande prisão — o feitiço virou-se contra o feiticeiro.
Ah... existe um menino preso dentro de mim, e como sofre dentro de mim este menino que descobri nos meus porões mentais já no outono de minha vida — vida longa aos 12 Passos —, e de vida não sei quanto tempo ainda me resta, mas peço todos os dias ao Poder Superior, conforme O concebo, que me fortaleça e me ajude a resgatar das poderosas garras de sua própria rejeição este amedrontado menino, o prisioneiro mental que habita em mim, o menino do cabeção que precisa tanto do meu amor, que é sentido e vivido e não pensado e idealizado.
Meu nome é Anônimo, Anônimo em recuperação! Pública é a minha codependência; eu sou maior que todas as minhas ilusões. Só por hoje serei feliz; só por hoje eu sou a pessoa mais importante da minha vida. Paz, serenidade e muitas 24 horas. Caso tenha gostado da mensagem, sinta-se a vontade para compartilhar com os demais.
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