Codependencia, o Inferno do Medo
"Concedei-nos, Senhor, a Serenidade
necessária
para aceitar as coisas que não podemos
modificar,
Coragem para modificar aquelas que
podemos,
e Sabedoria para distinguir umas das
outras"
Seja muito bem-vindo ao blog; Benvindo é meu sobrenome, Anônimo é o meu nome e pública é a minha codependência e gratidão.
Desde pequeno, sempre tive muito medo de ir para o inferno. Olhava horrorizado no grosso livro, infelizes pessoas sofrendo dentro de enormes caldeirões sobre chamas, que permaneceriam acessas por toda a eternidade; o sofrimento estampado naquelas gravuras, em rubras e escuras cores, tocava fundo no meu coração; não quero ir para o inferno de jeito nenhum, pensava eu.
Aprendi então que deveria ser sempre muito bem comportado; aprendi que não deveria dizer o que pensava, que não poderia jamais sentir raiva ou mesmo outra emoção qualquer — a manifestação das emoções era quase que um passe direto para as trevas; aprendi que não deveria chorar, não deveria jamais gritar, que deveria ir à igreja toda a semana e, desta forma, teria uma grande chance de não ir para o inferno.
Minha mente começou então a criar milhares de controles, a fim de que eu jamais comprasse o bilhete para as trevas — meu sentimento mais vívido era de que haviam diversos atalhos para lá. Passei então a usar várias máscaras de menino cordato, na tentativa de enganar toda a sociedade e, principalmente, aquele chifrudo vermelho e horroroso das gravuras do livro. Era tanto o medo do inferno, era tanta a vergonha de errar por um motivo qualquer — uma verdadeira visita antecipada ao escuro abismo das almas penadas — que, eu então passei a viver de uma forma profundamente mental, tudo pensado, tudo analisado e controlado meticulosamente, de forma a não infringir nenhuma regra — eu tinha a absoluta certeza de que o diabo não poderia ler os meus pensamentos.
Tive então uma abundante vida mental, tudo sobre o meu controle, até finalmente perceber, depois de algumas décadas, que eu estava vivendo dentro de um solitário poço emocional, um poço fundo, escuro e isolado do mundo, carregando sobre os meus próprios ombros uma grande carga de sofrimento mental e emocional — tentando fugir do inferno coletivo das almas penadas em uma suposta vida futura e além, eu criei o meu pessoal, privado e presente inferno nesta vida mesmo, onde não tinha nem com quem falar sobre minhas próprias misérias morais — o inferno mental é um local muito solitário e silencioso.
Admito que fracassei na minha tentativa de enganar o próprio diabo, mas o diabo de tudo isto, é que nunca existiu diabo e inferno nenhum fora de mim, mas, tão somente e dentro de mim, uma criança insegura e com medo do mundo e da vida, uma criança carente, isolada, esquecida, amedrontada, envergonhada e assustada, muito antes mesmo daqueles tempos das gravuras aterrorizantes — a expressão do meu inferno é a dor desta criança interior que, de tão perdida, criou com o seu grande sofrimento o seu próprio desterro.
Através de um Poder Superior — conforme eu O concebo —, encontrei um Programa de 12 Passos e, com a prática dele, descobri esta criança viva e perdida dentro de mim com muito medo de viver — o desconhecimento da realidade é o seu verdadeiro inferno. O drama interior vivido pela criança não é fruto de demônios e infernos exteriores, mas de algo muito sutil e pouco conhecido, a doença da codependencia.
Resta-me tão somente, de agora em diante, dar a ela todo o amor de que necessita, a fim de que possa desconstruir suas internas e doloridas gravuras do inferno, para finalmente pintar livremente o seu singular e plural retrato com cores diversas e coloridas, nas originais gravuras de sua própria vida.
Anônimo é o meu nome e pública é a minha codependência; eu sou maior que todas as minhas ilusões. Só por hoje serei feliz; só por hoje eu sou a pessoa mais importante da minha vida. Paz, serenidade e muitas 24 horas.
Querido companheiro de luta pelo autoconhecimento, cada dia te percebo mais leve e livre para ser feliz! Só por hoje! Gratidão!
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