A Codependente Projeção

"Concedei-nos, Senhor, a Serenidade
necessária

para aceitar as coisas que não podemos
modificar,
Coragem para modificar aquelas que
podemos,
e Sabedoria para distinguir umas das
outras"

Seja muito bem-vindo ao blog; Benvindo é meu sobrenome, Anônimo é o meu nome e pública é a minha codependência e gratidão.


A vida é como um filme; um filme é uma sucessão de estáticas fotografias tiradas em curtíssimos intervalos de tempo, transmitindo a maravilhosa sensação do movimento — a vida é um constante movimento.

Estou em um singular cinema protagonizando, e ao mesmo tempo assistindo ao filme da minha própria vida. Luz, câmara, ação...

A cada minúscula fração de tempo as fotos vão sendo tiradas, e o filme do meu viver vai seguindo o seu curso, mas não é um curso que flui naturalmente; detenho-me de forma obstinada aqui e ali em algumas fotografias, gerando um processo de desconexão com a exibição do filme no seu todo — meu doloroso transtorno do déficit de atenção.

Sou uma criança e numa certa foto, ou quadro, alguém grita comigo; as fotos continuam sendo tiradas a cada instante, mas detenho-me na foto do grito; o filme continua, mas estou agora fixado na desconfortante foto, e ao mesmo tempo temeroso de que outras fotos como estas venham a surgir na projeção — sinto tristeza e insegurança. 

O filme continua em movimento na constante exibição de novas fotos, e então, alguém de forma autoritária e olhar endurecido aponta o dedo para mim; novamente a fixação na foto específica em detrimento das inúmeras fotos que virão; novamente o receio de que outras fotos como esta possam surgir na projeção do filme — sinto medo.

O estranho processo continua; muitas vezes deparo-me com uma foto onde estou bem e feliz, e desejo então permanecer assim para sempre, e como um náufrago agarrado a uma boia, fixo-me com todas as forças do meu coração nesta fotografia maravilhosa, perdendo novamente a atenção no filme como um todo.

Ah... quero controlar o projetor da vida; quero deter todas as fotos que me trazem dor e sofrimento, quero somente a projeção das fotografias onde estou feliz, mas sou totalmente impotente em relação a isto — Primeiro Passo. 

O tempo avança e o filme também; já não sou mais uma criança, mas o estranho fenômeno da seletividade e apego a algumas fotos continua. Vejo-me no cinema ainda olhando com medo para fotos antigas, doloridas e desbotadas do meu passado, mentalmente fixado em dores pregressas.

De vez em quando mudo o foco e busco na galeria as fotos onde fui feliz, e o desejo que tenho é o de voltar o filme e, novamente viver os eventos estampados naquela fotografia cheia de saudosas emoções. 

Um dos sintomas da codependencia em mim, é a enorme dificuldade com a natural projeção do filme da minha vida, fixando-me constante e doentiamente em algumas estáticas fotografias — o particular em detrimento do todo. Em recuperação, venho buscando ajuda através da prática do Programa de 12 Passos, a fim de finalmente tentar compreender que vida é como o movimento das marés, jamais detendo-se, por mais insana que seja a minha obtusa mania de fixar-me em alguns quadros — os felizes de forma nostálgica, e os infelizes de forma rancorosa.

Meu nome é Anônimo, Anônimo em recuperação! Pública é a minha codependência; eu sou maior que todas as minhas ilusões. Só por hoje serei feliz; só por hoje eu sou a pessoa mais importante da minha vida. Paz, serenidade e muitas 24 horas. 

Comentários

  1. Obrigada Aloísio! Lindoooooo, parabéns! Chegou na hora certa e no momento certo.
    Só por hoje eu sou a pessoa maior das minhas ilusões.
    Só por hoje eu sou a pessoa mais importante da minha vida. 🙏🙌👏👏👏👏👏

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