O Reacionário

"Concedei-nos, Senhor, a Serenidade
necessária
para aceitar as coisas que não podemos
modificar,
Coragem para modificar aquelas que
podemos,
e Sabedoria para distinguir umas das
outras"

Seja muito bem-vindo ao blog; Benvindo é meu sobrenome, Anônimo é o meu nome e pública é a minha codependencia e a minha gratidão.

"Está passando tempo demais reagindo a alguém ou a algo em seu ambiente? A quem ou a que? Como está reagindo? É assim que se comportaria ou sentiria se tivesse escolha?" 

Eu sou um reacionário mental e emocional; vem agora à minha mente "O prisioneiro da Máscara de Ferro", um clássico escrito por Dumas Filho. Eu digo então para vocês, com toda a franqueza do meu coração: Ao longo de décadas eu tenho sido um prisioneiro, um triste prisioneiro da máscara de meu próprio progenitor.

No livro de Dumas, a máscara foi colocada por inimigos que queriam, por interesses mesquinhos, isolar aquele homem do convívio social. No livro de minha vida, a máscara, eu mesmo a coloquei em mim quando criança, quando olhava para o meu progenitor e ia, pouco a pouco assimilando a sua maneira de ser e agir. 

Talvez seja normal as crianças fazerem isso; por não conhecerem ainda muito bem o seu universo interior, por desconhecerem ainda a sua própria individualidade, vão então aprendendo o jeito de ser dos outros, e, desta forma, por algum tempo elas são mais os outros do que elas mesmas, até que um dia elas finalmente descobrem a sua própria individualidade, e daí em diante passam a viver suas próprias emoções com mais autonomia  o fim do cordão umbilical materno e paterno.

Não consegui cortar o cordão umbilical com o meu progenitor, e a resultante disso foi passar grande parte de minha vida reagindo como papai, agindo como papai, pensando em papai, brigando mentalmente com papai, querendo ver-me livre de papai  chamo isto de codependencia, ou ligação doentia, ou não desenvolvimento emocional, ou ainda desligamento tardio.

Na condição de mascarado de papai não conheci a minha própria forma de agir e de ser; nesta limitada e doentia condição, de forma inconsciente, saí pelo mundo afora com a máscara de meu pai no rosto. Durante centenas de horas nas salas de 12 Passos falei de papai; muitas vezes tratei minha mulher como papai tratava a minha mãe; inúmeras vezes tentei impor a minha vontade sobre os demais, centenas de vezes fui intolerante; se ao longo da vida reclamei tanto da ausência de papai em minha vida, fiz também a mesma coisa com a minha família, pois, tal como papai, sempre trabalhei longe de minha casa. 

Por usar esta máscara por tantos e tantos anos, ela praticamente moldou-se ao meu rosto; não será nada fácil livrar-me dela. A outra questão é que a máscara tem o poder de esconder-me   diz agora o meu velho ego para mim , e talvez seja mesmo mais conveniente ou ainda mais doente, viver sob a máscara do outro, do que assumir as responsabilidades sobre todas as minhas emoções diante da vida - medo, fraqueza, coragem, raiva, ódio, amor...

Ah... mas além da máscara de papai, existem também outras máscaras:  Máscara do ressentimento, máscara do medo; máscara do vazio, máscara da angústia; máscara da vergonha tóxica, máscara da indiferença... e eu sei que estas máscaras não são de papai, eu sei; logo, concluo que são máscaras minhas, máscaras próprias e pessoais, máscaras com as quais, ao longo de toda uma vida, desempenhei tantos e tantos papéis nos palcos da vida  até parece um baile de máscaras carnavalescas. 

"Mas por que tantas máscaras Anônimo Benvindo, qual afinal de contas o porquê de tudo isto?" Respondo que a máscara de papai foi por imitação  uma doentia e codependente imitação , e que todas as demais   minhas próprias máscaras  são na verdade máscaras menores, máscaras que escondem a minha grande e verdadeira máscara, a máscara do meu humano orgulho — todas elas forjadas nas oficinas do meu egoísmo. 

"É assim que se comportaria ou sentiria se tivesse escolha?" 

A resposta para esta pergunta ainda não tenho, estou na caminhada da recuperação através do Programa de 12 Passos, e muitas vezes ainda caminho portando as minhas máscaras. Quando conseguir livrar-me definitivamente delas, escrevo novamente, anunciando, enfim, as boas novas.

Poder Superior: Ajude-me a livrar-me corajosamente de todas as minhas máscaras  são muitas , a fim de viver todos os dias, não como uma folha soprada por qualquer vento, reagindo de forma descontrolada por qualquer brisa, mas como um homem de rosto limpo, um homem trazendo no olhar apenas a face transparente da humildade, agindo sempre com serenidade e presença de espírito. 

Só por hoje serei feliz; só por hoje eu sou a pessoa mais importante da minha vida. Paz, serenidade e muitas 24 horas.







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