Sinônimo de Dor, Antônimo de Amor
"Concedei-nos, Senhor, a Serenidade
necessária
para aceitar as coisas que não podemos
modificar,
Coragem para modificar aquelas que
podemos,
e Sabedoria para distinguir umas das
outras"
modificar,
Coragem para modificar aquelas que
podemos,
e Sabedoria para distinguir umas das
outras"
Seja muito bem-vindo ao blog; Benvindo é meu sobrenome, Anônimo é o meu nome e pública é a minha codependencia.
Estou lendo um livro sobre codependencia intitulado "Codependencia Nunca Mais" - autora Melody Beattie. Neste livro, o capítulo 3 é uma busca pela definição da palavra codependencia, ou ainda, codependente; é uma palavra que apareceu no jargão da psicologia - segundo o livro - nos anos 70, e que, cinquenta anos depois, ainda não consta em nenhum dicionário - eu também procurei o significado e não encontrei.
Ao longo do capítulo, a autora vai à caça do significado da palavra, a partir da interpretação de profissionais e de pessoas assoladas pela codependencia, e o que se tem é um conjunto de definições, algumas ligadas as causas, outras aos efeitos da doença - na verdade, parece que tal como a palavra, a doença oficialmente não existe - coisa mais estranha.
Todas as definições me tocaram, e uma das que mais me sensibilizaram foi:
"Uma condição emocional, psicológica e comportamental que se desenvolve como resultado da exposição prolongada de um indivíduo a - e a prática de - um conjunto de regras opressivas que evitam a manifestação aberta de sentimentos e a discussão direta de problemas pessoais e interpessoais" - Robert Subby.
Nesta definição eu, Anônimo Benvindo!; nesta definição todo o meu medo de ser e existir; nesta definição a minha absurda dificuldade de dizer não; nesta definição a figura opressora do meu pai que me acompanha todos os dias - meu pai não era nenhum monstro, era apenas um humano com um certo grau de autoritarismo, porém, um homem com um sem fim de virtudes - na minha miopia codependente eu não enxergo virtudes; nesta definição o Anônimo Benvindo, como um Peter Pan vivendo na terra do nunca, onde nunca se cresce e amadurece, terra onde nunca se vive, apenas, sempre e sempre se fantasia; nesta definição o Anônimo Benvindo que esconde o que sente, o Anônimo Benvindo que não se expressa, o Anônimo Benvindo impresso em suas mudas dores, o Anônimo Benvindo mudo e solitário, o Anônimo Benvindo nostálgico e preso em seu mundo infantil; nesta definição o Anônimo Benvindo cheio de vergonha e medo... Medo de ser notado, medo de ser apontado, medo de ser responsabilizado, medo de entrar em contato com a rejeição, medo de existir, medo de mim, medo do outro, medo de ser feliz e, sobretudo, medo, muito medo de papai; nesta definição o Anônimo Benvindo todo angústia e todo vazio, o Anônimo Benvindo mental, o Anônimo Benvindo que raramente entra em contato com as suas próprias emoções, o Anônimo Benvindo codependente.
O Capítulo 3 começa com a seguinte citação:
"Os relacionamentos são como uma dança, com uma energia visível indo e voltando de um parceiro para o outro. Alguns relacionamentos são a dança lenta e sombria da morte" - Collete Downling.
Na minha infância, no local onde cresci, tanto na família, como pelas redondezas, havia uma expressão que muitas vezes era dita de forma jocosa, um chiste: "Você dançou!". Neste sentido, dançar é perder, dançar é ter sido passado para trás, dançar é fazer papel de bobo, de ingênuo... Quantas e quantas vezes ouvi esta expressão: "Você dançou Anônimo Benvindo, você dançou...", geralmente seguida de desagradáveis gargalhadas e doentios olhares - como aquilo doía em minha alma.
Sempre desejei bailar nos salões - bailar e não dançar - e nunca consegui - meu corpo é tão rígido quanto o corpo de um robô -, mas, ao longo de minha vida de codependente, jocosamente falando, dancei muitas e muitas vezes: dancei nos meus relacionamentos; dancei na minha alegria e espontaneidade; dancei no meu depressivo poço; dancei nas minhas dores e amarguras; dancei na realidade fugindo compulsivamente para a fantasia; dancei na carência e na ausência; dancei, dancei por longos anos, dancei até quase envelhecer, dancei até finalmente encontrar uma sala de 12 Passos.
Agora, estou aprendendo a finalmente, e como sempre quis, a simplesmente bailar, e utilizo como instrutor de dança o programa de Recuperação de 12 Passos, e vou, pouco a pouco conseguindo dar os meus primeiros passos - como é bom viver, como é bonito bailar!.
Já venho bailando do meu jeito - cada um tem o seu próprio jeito -, e a muitas 24 horas - somente uma experiência pessoal -, constantemente vou ao campo e lá planto árvores, muitas árvores, e isto para mim é um verdadeiro baile, um baile tão bonito quanto uma reunião de 12 Passos.
Encerrando agora, como eu definiria a codependencia? Definiria assim:
"Codependencia: Palavra que por não existir nos dicionários não faz o menor sentido - os dicionários não sentem -, e que traz no seu gramatical vazio de inexistir todo o seu profundo sentido de existir: Sinônimo de dor e antônimo de amor".
Só por hoje serei feliz; só por hoje eu sou a pessoa mais importante da minha vida; só por hoje eu aprenderei a bailar a maravilhosa canção do aqui e do agora, a canção da própria vida.
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