O Bom Menino Fez Muito Xixi Na Cama

"Concedei-nos, Senhor, a Serenidade
necessária
para aceitar as coisas que não podemos
modificar,
Coragem para modificar aquelas que
podemos,
e Sabedoria para distinguir umas das
outras"


Seja muito bem-vindo ao blog; Benvindo é meu sobrenome, Anônimo é o meu nome e pública é a minha codependencia.

Hoje cedo procurei no dicionário e não achei a palavra xixi; esta palavra não existe! Assim como não existe xichi ou chixi, ou ainda chichi. No dicionário existe a palavra vergonha, esta eu sei que existe...

Vou escrever então sobre algo que não existe  gramáticos da língua portuguesa, perdão , mas creio que serei compreendido, pois vocês  que boa notícia   falam o meu idioma também — a maravilhosa linguagem do coração.

Fiz xixi na cama por muito tempo. Acordava de manhã, e lá estava eu todo melado, todo molhado, desagradável... Como virou uma rotina, mamãe costumava colocar um plástico sobre o colchão, pois no inverno, nem sempre dava tempo das roupas secarem ao longo dos dias frios, frios e molhados dias...

Quando acordava ensopado sentia um grande desconforto. Aquilo era meio estranho; ao mesmo tempo que era desagradável, tinha assim algo de bom, pois era quentinho. Então, eu ficava ali na cama quietinho naquele quentinho, não querendo levantar, não querendo mostrar para todos da casa que o xixi havia vindo mais uma vez.

Eu sentia olhares reprovadores, sentia olhares distantes, sentia raiva daquilo, sentia vergonha daquilo. Papai viajava frequentemente, papai era um viajante, mas existiam dias em que ele estava em casa, e papai sempre acordava cedo, tal qual os passarinhos, e nestes dias era muito difícil para mim quando vinha o xixi. Ficava lá na cama molhadinho, encolhidinho e envergonhadinho, esperando papai sair da cozinha, onde ficava um bom tempo conversando com mamãe, papai era muito bom de conversa.

O pior de tudo isto é que achava que aquilo duraria para sempre, para sempre. Na doença da emoção, doença da negação, doença da codependencia, tudo é irremediavelmente para toda a eternidade: A alegria, a dor, a riqueza, a miséria, a raiva, o medo, tudo... tudo para sempre. Então  sintam o humano drama   eu não poderia me casar e ter filhos, imaginem... "Meu bem  não é possível isto: Você ensopou toda a nossa cama" — minha mulher falando. "Papai, papai, você fez xixi de novo papai" — meu filho falando.

Mamãe nunca me reprovou — as mães nunca reprovam , nunca me censurou por isto — o amor não censura; muitas vezes fazia simpatia para tentar resolver o problema do meu xixi. Lembro-me uma vez que ela esquentou um pedaço de tijolo velho na trempe do fogão, e depois pediu para eu fazer xixi em cima dele. Creio que a simpatia funcionou durante algum tempo, e depois mamãe teve que providenciar mais tijolos, tantos, que dava para construir uma casa  pessoa maravilhosa a minha mãe.

Como xixi não existe, deixo registrado para vocês que vergonha existe, que olhares reprovadores existem, que sentimento de inadequação existe, que sentimento de impotência existe, que medo e abismos emocionais existem.

Havia alguém na casa, vou chamá-la de Maria. Pois é, xixi não existe, chixi também não, mas a Maria existiu, a Maria ainda existe, e eu sempre amei muito a minha irmã Maria, muito, sabem por que? Por que a Maria também fazia xixi na cama; então eramos irmãos do mesmo infortúnio e das mesmas camas matinais molhadas, e isto nos aproximava como irmãos, algo assim como esta aproximação maravilhosa de uma Sala de 12 Passos. 

Lá pelos 15 anos, depois do esgotamento de uma olaria, o xixi finalmente partiu — ufa , e eu consegui a extraordinária liberdade de acordar limpo e seco. Acho que é assim que falam em uma das irmandades de 12 Passos: "Estou limpo!". Se existisse uma irmandade para os que acordam molhados pela manhã, eu poderia dizer então: Estou limpo e seco! — acho que vou criar o grupo Molhados Anônimos.

É isso por hoje companheiros... xixi não existe, mas irmandades amorosas existem, 12 passos existem, a sinceridade existe, e o amor... o amor é mesmo como um pedaço de tijolo velho queimando na trempe do fogão da casa de mamãe, em um dia frio de inverno. 

Meu nome é Anônimo Benvindo, não minha dor e minha história, que agora compartilho com vocês. 

Só por hoje serei feliz; só por hoje eu sou a pessoa mais importante da minha vidaPaz e serenidade e muitas 24 horas...






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