O Vira Lata Totó

"Concedei-nos, Senhor, a Serenidade
necessária

para aceitar as coisas que não podemos
modificar,
Coragem para modificar aquelas que
podemos,
e Sabedoria para distinguir umas das
outras"

Seja muito bem-vindo ao blog; Benvindo é meu sobrenome, Anônimo é o meu nome e pública é a minha codependência e gratidão.


Era uma vez um cachorrinho chamado Totó. Durante muito tempo de sua vida, Totó ouvia certas vozes externas, e o eco em seu coração destas falas eram mais ou menos assim: "Venha cá Totó; passa Totó; Totó, varra o quintal; Totó, obedeça ao seu pai; Totó, seja um bom vira lata, e desta forma você irá para o céu; Totó, obedeça sempre aos mais velhos; Totó, nunca diga não; Totó, jamais expresse-se; Totó, calado; Totó, você é uma besta; Totó, você é uma besta quadrada; Totó, engula o choro; Totó, você é muito desligado; Totó, você é um bobo; Totó, quem estuda muito acaba ficando burro...".

Totó sofreu com este estimulante vozerio exterior; Totó comeu o pão que o diabo amassou com o rabo; Totó não foi para o esperado céu, mas tão somente para o escuro poço da depressão; Totó fugiu para a fantasia; Totó sentiu a vergonha tóxica e corrosiva; Totó sentiu o ressentimento cortando como uma navalha; Totó sentiu o infinito vazio do existir; Totó bebeu da solidão até ficar de porre; Totó armazenou uma montanha de raiva que deu muito trabalho para o seu fígado; Totó esteve perto da loucura, tal era o desvario de sua mente alucinada, acelerada, revoltada, indignada, desequilibrada; mente neurótica, doente, ausente e codependente a do pobre vira lata Totó.

Reza a lenda que os vira latas entram nas Igrejas porque encontram as portas abertas. Pois não é que numa tarde de agosto, o mês do cachorro louco, Totó entrou, não numa Igreja, mas em uma sala de 12 Passos que estava costumeiramente com as portas abertas, e na sala e num canto ele foi ficando, ficando... Até que um dia, Totó finalmente começou a expressar suas dores e emoções mais ignotas; neste dia Totó não latiu, neste dia Totó sentiu e falou pela primeira vez em sua vida, e era uma voz que vinha das profundezas de todo o seu sofrimento. Neste momento Totó descobriu que ele era muito mais do que um simples, virtuoso e cordato vira lata; Totó percebeu maravilhado que ele era na verdade um homem aprendendo finalmente a falar a linguagem do seu próprio coração na primeira pessoa do singular.

Mas foram tantos e tantos anos como Totó, que mesmo agora na plena condição de homem, no fundo de sua alma, ele ainda comporta-se muitas e muitas vezes como o velho Totó, não mais o Totó social e subserviente, mas um Totó confiante e renovado, que nutre por um Poder Superior conforme ele O concebe, um profundo sentimento de gratidão e respeito, por tantas e tantas graças alcançadas na sua humana condição. Genuína é a sua alegria por todas as portas de 12 Passos abertas em vários cantos do mundo, que recebem de braços abertos tantos e tantos outros equivocados e sofridos seres humanos.

Difícil dizer se a alegria do Totó é uma humana alegria, ou se a alegria do homem que ele vem descobrindo dentro dele mesmo é uma vira lata alegria, ou ainda, se tudo não passa mesmo de uma alegria só.

Totó também aprendeu a escrever sobre suas emoções em cores pretas sobre superfícies brancas...

Era uma vez um cachorrinho chamado Totó. Durante muito tempo de sua vida,...

Anônimo é o meu nome e pública é a minha codependência; eu sou maior que todas as minhas ilusões. Só por hoje serei feliz; só por hoje eu sou a pessoa mais importante da minha vida. Paz, serenidade e muitas 24 horas.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A Criança no Balanço

A Ilusória Ansiedade

A Criança Ferida e o Neurótico