A Carreta Perdida Nas Dobras do Tempo

"Concedei-nos, Senhor, a Serenidade
necessária
para aceitar as coisas que não podemos
modificar,
Coragem para modificar aquelas que
podemos,
e Sabedoria para distinguir umas das
outras"

Seja muito bem-vindo ao blog; Benvindo é meu sobrenome, Anônimo é o meu nome e pública é a minha codependência e gratidão.



Hoje é segunda-feira, mas acordei no Sexto, no Sexto Passo. As fantasias chegam às dúzias... Moças bonitas que me farão feliz, moças bonitas da minha juventude. Elas estão lá convidando-me para o país das fantasias, convidando-me para a terra da felicidade eterna; convidando-me para o fim do meu vazio e para a paz do meu viver. 

No passado descobri que os pensamentos negativos eram os portais do meu depressivo mundo; hoje, eu já consigo não deixar envolver-me por eles, e as portas depressivas, só por agora, estão fechadas. Mas ainda caio no conto das ilusões fantasiosas e nas belas que desejei amar e não amei no passado. Então, preciso praticar o Sexto Passo: "Prontificamo-nos INTEIRAMENTE para deixar que Deus removesse todos estes defeitos de caráter". Não é fácil, pois a insanidade é tanta, que eu tenho a certeza que as fantasias e os pensamentos mágicos são excelentes caminhos para levar-me definitivamente para o paraíso que tanto almejo. 

Só por hoje estou no Sexto Passo, o passo onde tento neste momento dizer um "Não" para as minhas fantasias; só por hoje, só por agora, como Ulisses em sua odisseia amarrado ao mastro do navio, a fim de não ouvir o canto das sereias, tentarei amarrar-me firmemente em cada passo, a fim de não ceder às fugas mentais, e mergulhar insanamente no nefasto mar das codependentes dores.

A dor aperta e o vazio manifesta-se mais e mais; não cedo às fantasias. Chamo meus vira latas, e vou para os fundos do quintal andar um pouco por entre as árvores. Que dor é esta meu Deus? Que vazio é este meu Deus? Que necessidade de criar mundos mentais é este meu Deus?

Cinquenta anos antes...

"Domingo à tarde, todos no portão; papai despede-se de cada um de nós e parte no seu caminhão. Duzentos metros depois, eu vejo a carreta vermelha desaparecer na curva da rua. Volto para casa em silêncio, tal como meus irmãos e minha mãe. Vai cada um para o seu canto, e eu, solitariamente, vou para os fundos do quintal chorar a dor da saudade do meu pai ausente, abraçadinho com o meu cachorro vira lata. 

Segunda-feira pela manhã; acordo, levanto e vou para a escola. Por onde passo procuro pela carreta do meu pai, mas não vejo a carreta em lugar nenhum. Papai está longe, muito longe... que saudades do meu pai, que falta me faz o meu pai, e a falta é tanta, que pouco a pouco, dia após dia, um grande vazio vai fazendo-se dentro de mim, um vazio tão grande quanto a própria carreta do meu pai, desaparecida na curva da rua e perdida nas dobras do tempo".

Benvindo é meu sobrenome, Anônimo é o meu nome e pública é a minha codependência; eu sou maior que todas as minhas ilusões. Só por hoje serei feliz; só por hoje eu sou a pessoa mais importante da minha vida. Paz, serenidade e muitas 24 horas.



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