A Depressão, a Codependência e a Esperança

"Concedei-nos, Senhor, a Serenidade
necessária
para aceitar as coisas que não podemos
modificar,
Coragem para modificar aquelas que
podemos,
e Sabedoria para distinguir umas das
outras"

Seja muito bem-vindo ao blog; Benvindo é meu sobrenome, Anônimo é o meu nome e pública é a minha codependência e gratidão.


A depressão é um pesadelo que nunca termina; uma namorada que eu jamais encontro; um sonho que eu jamais realizo; um pai ausente que eu jamais abraço.

A depressão é como uma segunda-feira fria, cinzenta e chuvosa; como uma noite escura que nunca termina; como um túnel escuro, onde eu jamais descubro a luz no final; como um grande muro obstruindo os horizontes de viver.

A depressão é inimiga de todo movimento, e amiga de toda a negação da vida; ela é como um motor emperrado; como uma roda quebrada; como uma enxada enferrujada e sem cabo; como uma mala pesada e sem alças.

A depressão é o demônio de plantão 24 horas por dia nos portões de minhas emoções; ela é como um carro andando por uma rodovia com o freio de mão puxado; como um perpétuo inverno que desconhece completamente as demais estações; como uma daquelas carrancas de barro do velho e amado rio São Francisco.

A depressão é uma dor sem rosto, dor surda e muda, dor jamais revelada; uma dor profunda e negada, uma dor de clausura no poço; uma dor de náufrago em ilha deserta.

A depressão é velha, feia e decrépita; ela não suporta a alegria e não conversa com a esperança  a depressão não conversa com ninguém.

O Senhor Depressivo tentou por anos entender os mecanismos de sua  depressão, e por mais que eu falasse a respeito dela nas salas de 12 Passos, não encontrava uma solução — seria ela uma doença eternamente misteriosa e perpetuamente incurável?

Estaria o Senhor Depressivo fadado a viver chafurdando como um infeliz, nos fétidos brejos e profundos abismos emocionais para sempre?   um eterno galé remando eternamente nos tenebrosos mares de suas agonias mentais. 

Até que um dia, depois de muitas 24 horas nas Salas de 12 Passos, o Senhor Depressivo viu a figura de um homem cansado e completamente exausto de tanto lutar inutilmente com a sua inimiga depressão  era a sua própria e triste figura.

Naquela época, o Senhor Depressivo foi convidado por um companheiro a participar de uma irmandade de 12 Passos que tratava de codependencia  até então ele desconhecia completamente esta palavra, e nem nos dicionários encontrou um significado para ela.

Então, na iminência de finalmente entregar os pontos, e admitir sua derrota emocional diante da famigerada e invencível doença da depressão, o que seria fatalmente o seu fim, o Senhor Depressivo, depois de assistir algumas reuniões sobre a codependência, veio a descobrir algo verdadeiramente extraordinário: A sua depressão não era a doença de um homem, era tão somente a dor de uma criança perdida, sofrida, rejeitada, amedrontada, envergonhada e abandonada dentro dele mesmo.

O Senhor Depressivo então finalmente descobriu as verdadeiras raízes de suas dores, e constatou que a depressão era o andar de cima da sua casa, e quase não acreditou no fato de existir um andar térreo e completamente inexplorado, andar este onde vivia uma criança com as profundas marcas da codependencia.

A identificação do homem deprimido com a criança perdida e abandonada foi integral e imediata - alegria de rio desaguando no oceano.

Depois de tudo isto, constatou o Senhor Depressivo que a sua recém descoberta codependência era mesmo a perversa madrasta de sua depressão.

Grande foi a gratidão do Senhor Depressivo ao Poder Superior de sua concepção, ao receber de um companheiro em um dia de primavera um recado que dizia: "Descobri um grupo fantástico, onde as reuniões são pautadas pelo acolhimento, e as emoções são colocadas para fora, e não enterradas para dentro. Eu fui; foi este um dos maiores presentes que a vida me deu  era um grupo de 12 Passos sobre as questões da codependência".

Antes de terminar, relato que o Senhor Depressivo mudou o seu nome de registro, passando a se chamar Senhor Esperança, e desde então, cuida das raízes de suas emoções   a codependência; a depressão, aquela ingrata, partiu sem ao menos se despedir, e o Senhor Esperança não sentiu a menor falta dela.

Benvindo é meu sobrenome, Anônimo é o meu nome e pública é a minha codependência; eu sou maior que todas as minhas ilusões. Só por hoje serei feliz; só por hoje eu sou a pessoa mais importante da minha vida. Paz, serenidade e muitas 24 horas.

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