No Olho do Furacão da Codependencia

"Concedei-nos, Senhor, a Serenidade
necessária
para aceitar as coisas que não podemos
modificar,
Coragem para modificar aquelas que
podemos,
e Sabedoria para distinguir umas das
outras"

Seja muito bem-vindo ao blog; Benvindo é meu sobrenome, Anônimo é o meu nome e pública é a minha codependencia.

Segunda-feira, 09 de dezembro de 2019, seis horas da manhã; abri a guarda mental, esqueci os passos, esqueci as tradições, esqueci o programa, esqueci a oração da serenidade e qualquer outra oração, esqueci tudo. Abri o baú fantasioso da minha pseudo felicidade   minha droga pessoal , e então a codependencia que estava de plantão contra atacou duramente...

Ah... aquela moça linda, loira e tão bonita e melancólica que eu conheci no passado lá no Espirito Santo. Ah se eu tivesse me casado com ela, como eu seria feliz.

Ah... depois de quarenta anos eu consegui encontrá-la nas redes sociais. Ela está divorciada, está livre, e apesar da idade, continua linda, linda e melancólica.

Ah... na minha codependencia doida ela é mais linda que minha mulher do mundo real; que vontade de correr para os braços dela, correr já, correr agora.

Ah meu Deus... a mulher real de minha vida pega às vezes no meu pé, fica às vezes de mal humor, anda, respira, transpira... Não, não... a mulher real não é a banda que me falta, não é. A banda é aquela loira linda lá do Espirito Santo, sempre sorrindo, sempre feliz, uma eterna, misteriosa e delicada Monalisa, uma pessoa com quem eu falei quase nada em tantos anos.

Ah meu Deus... tem também aquela outra moça lá da cidade vizinha que me enviou um zap ontem. Ela está carente, está precisando de carinho e salvação, está precisando, quem sabe, da minha presença salvadora e libertadora, ela deseja amor... Eu posso dar amor para ela, eu posso salvá-la daquela solidão que a mortifica, eu quero libertá-la daquela melancolia tão patente. Quero ir agora para os braços dela, a fim de enchê-la de amor e carinho, e aplacar para sempre aquela solidão profunda que ela sente todos os dias. Eu quero salvá-la, eu quero alegrá-la, eu quero fazê-la feliz para sempre. Ela é a minha outra amante virtual, ela é a outra amante mental, ela é a outra que eu quero salvar, tal como a loira melancólica capixaba.

Tento abrir o livro de meditações diárias e a codependencia, por analfabeta, não deixa, e continua me bombardeando com pensamentos ilusórios de felicidade, uma felicidade passada e nunca vivida, uma felicidade sempre ausente, uma felicidade que jamais conheci, uma felicidade doida e cheia de mulheres melancólicas.

Poder Superior, Poder Superior, socorro, socorro... sou atacado pela codependencia neste momento, que como marimbondos mentais e infernais atacam a minha mente e ferem o meu coração, trazendo angústia, muita angústia. 

Estou no olho do furacão da codependencia, estou sendo atacado por todos os lados, abri a guarda. Lá vem a angústia, lá vem a fantasia mental, lá vem a dor infantil que não passa, lá vem a carência da minha mãe   me salve mamãe, me salve , lá vem a dor do tempo que não vivi, lá vem o vazio, lá vem a nostalgia, lá vem a baixo auto estima, lá vem a dor presente, eterna e sem rosto, lá vem a melancolia de todas as mulheres do mundo...

Estou agora na rua em direção ao metrô — como é triste o rastro da codependencia , e os pensamentos fantasiosos e codependentes ainda estão lá: A loira capixaba, a morena da cidade vizinha, aquela outra vizinha linda da minha juventude que somente consegui amar platonicamente... caminho pela rua, e nesta hora todas as minhas amantes mentais   tive muitas  todas elas, como fantasmas insepultos e revoltados aparecem à minha frente, oferecendo-me o amor que eu sempre desejei e nunca tive, ofertando-me o amor que eu, por viver preso em meu mudo e murado mundo, nunca tive a coragem de ir buscar, experimentar e viver. 

Ah Meu Deus... Quantas lindas mulheres imaginadas e nunca tocadas, mulheres com as quais jamais troquei palavras, tantas, tantas... Elas chegam todas ao mesmo tempo, e eu, caminhando para o metrô, a cabeça como um turbilhão, a mente fervilhando de pensamentos e fantasias, o coração raiado de dor, vazio e angústia, eu, desesperadamente tentando fugir de tudo isso.

Estou agora no escritório; tento me focar, mas não consigo, os pensamentos doentios ainda estão lá. Tento escapar ouvindo música, mas são músicas antigas e nostálgicas que acentuam em mim o estado da codependencia. Paro tudo o que estou fazendo e começo a escrever, escrever... preciso fotografar o olho do furação e enviar para meus companheiros; a dor é tanta, a saudade é tanta, o vazio é tanto, o medo é tanto, o sentimento de impotência é tanto, a vergonha é tanta, a culpa é tanta, a melancolia é tanta, a codependencia é tanta...

Estou ouvindo agora uma música de alguém que deseja um outro alguém, e por não ter o alguém desejado canta que é o fim do mundo   minhas amadas codependentes canções.

Ah todas as mulheres da divina criação: Por favor, salvem-me do fim do mundo, por favor, fundam-se todas vocês, mulheres de todos os tempos, de todas as eras, mulheres de todo o universo, mulheres passadas e futuras, todas as mulheres que sempre existiram e que ainda existirão, por favor, por favor: Fundam-se todas, transformem-se em minha mãe, e preencham o imenso sentimento de carência que eu sinto neste momento.

Quero a minha mãe, quero o colo de mamãe. Quero aplacar a dor de minha mãe, quero salvar minha mãe que sofre tanto, minha mãe que é meu porto seguro e que sofre tanto, tanto... preciso salvar minha mãe daquela melancolia eterna a fim de não me afogar nas águas do mundo. Preciso amar e salvar todas as mulheres do universo: Mulheres sofridas, mulheres angustiadas, mulheres deprimidas, e sobretudo as mulheres melancólicas. Mulheres de todas as idades: Vinde todas a mim que eu as salvarei das garras opressoras da melancolia sem fim. 

Ah meu Poder Superior... Como é terrível estar no olho do furacão da codependencia; como é terrível continuar fugindo da realidade, tentando ainda e inutilmente viver no meu falido país das fantasias mentais e emocionais; como é terrível a dor da criança ferida em mim que geme e chora o tempo todo, como é terrível... Qualquer dia destes ainda escrevo um livro: O Senhor Anônimo no país das fantasias, ou quem sabe: O Senhor Anônimo no país da codependencia.

Só por hoje serei feliz; só por hoje eu sou a pessoa mais importante da minha vida.

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