Flamengo, Flamengo, Sua Glória é Lutar...
"Concedei-nos, Senhor, a Serenidade
necessária
necessária
para aceitar as coisas que não podemos
modificar,
Coragem para modificar aquelas que
podemos,
e Sabedoria para distinguir umas das
outras"
modificar,
Coragem para modificar aquelas que
podemos,
e Sabedoria para distinguir umas das
outras"
Seja muito bem-vindo ao blog; Benvindo é meu sobrenome, Anônimo é o meu nome e pública é a minha codependencia.
Tenho uma boa memória. Hoje cedo, passando pela frente de uma loja de artigos esportivos, ouvi o trecho de um hino: "Flamengo, Flamengo, sua glória é lutar, Flamengo, Flamengo, campeão de terra e mar...". Em poucos segundos eu era um menino, e então quem cantava aquele hino era o meu pai. A paixão dele pelo Flamengo era muito grande, então, de forma natural, eu aprendi através dele a gostar do Flamengo também. Lembro-me que nas semanas que antecediam aos jogos, nossa expectativa era muito grande, e ele sempre me dizia que o Flamengo venceria o jogo, o que me enchia de confiança e empolgação. Quando o Flamengo realmente ganhava, era uma alegria só, uma alegria de pai e filho, a alegria dos vitoriosos. Mas acontecia algo interessante: Quando o Flamengo perdia, eu era o único flamenguista da casa, quando o Flamengo perdia ele não mais torcia pelo Flamengo (aquilo era coisa de criança ingênua, de criança boba).
Este processo de torcer de forma distorcida ocorreu por muitos anos, eu e meu pai juntos na vitória, e eu sempre sozinho e isolado nas derrotas. Até que alguns anos depois, sentindo em mim que de certa forma não havia ali uma relação de confiança, eu passei a torcer sozinho (era menos doloroso para mim), e desde aqueles dias remotos, nunca mais comentei de futebol com o meu pai, e através de mim ele nunca mais soube nada mais sobre o nosso querido Flamengo.
Ouvindo o hino hoje cedo, todas estas codependentes lembranças voltaram à tona, trazendo para mim uma angústia sem fim. Ah meu pai, teria aprendido muito contigo mesmo naquelas derrotas, teríamos divido juntos nossas frustrações, futebol é mesmo assim, e depois, tantos outros jogos viriam, tantos outros...
Na sua época meu pai, não existiam Salas de 12 Passos na cidade, naqueles difíceis tempos, era algo como "Cada um no seu Canto chore o seu tanto." A angústia e a mágoa ainda estão aqui e agora enquanto ando pela rua e ainda ouço o hino ao longe, o hino do seu querido Flamengo meu pai. Resta a mim tão somente aprender toda a sabedoria contida na oração da serenidade; resta a mim tão somente a prática do programa, e isto não é pouco, isto é um presente que eu tenho; resta a mim tão somente aprender a amar.
Ah, e antes que eu encerre: Continuo torcendo pelo Flamengo, e o meu filho também torce pelo time do seu avô. E quando o Flamengo ganha ou perde, eu, o menino de ontem, e o meu filho, o menino de hoje, ficamos alegres ou tristes juntos, e agora eu vejo como isto já é um enorme progresso no meu processo de recuperação nas Salas de 12 Passos.
Meu pai está com 97 anos e sofre da doença do alemão, o mal de Alzheimer. Ah se eu pudesse agora olhar nos olhos dele e dizer com toda aquela minha alegria de menino: Papai, papai, o Flamengo ganhou, o Flamengo ganhou papai. A dor da codependencia dói tanto em mim, tanto, tanto... Certamente doía em meu pai também, certamente doía, principalmente nas derrotas do Flamengo, e nos tantos e tantos abraços negados por cada um de nós dois, abraços negados de um para o outro. Como dói isto meu Poder Superior, como dói isto papai...
Só por hoje serei feliz; só por hoje eu sou a pessoa mais importante da minha vida.
Só por hoje serei feliz; só por hoje eu sou a pessoa mais importante da minha vida.
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